1. Segundo Luís Cabral, professor na Universidade de Nova Iorque, a crítica à decisão da direção da Nova SBE, no que designa como o caso Peralta, é exagerada e unilateral. Citando: “se há liberdade de expressão deve ser para todos: seria bom que os cronistas da praça que com tanto entusiasmo se debruçaram sobre o caso Peralta respondessem também aos 67 professores do ISCTE que repudiaram publicamente — em moldes que vão muito para lá do debate académico civilizado — o trabalho de investigação de Riccardo Marchi sobre o fascismo e o partido Chega”. Opinião não é ciência mas não dispensa alguma adesão aos factos. O que, de todo, não acontece neste caso.
2. Primeiro problema com a opinião de Luís Cabral: não houve 67 professores do ISCTE a repudiar o trabalho de Riccardo Marchi, mas dez em 67 de várias universidades portuguesas. Segundo problema: a principal relação entre Riccardo Marchi e o ISCTE não é de contestação mas contratual. Marchi é investigador no ISCTE, cargo a que acedeu mediante concurso público. Indícios que não permitem associar ao ISCTE “o perigo de que a academia como colégio de professores se cerre sobre si própria numa fortaleza que efetivamente veda o acesso à variedade de opinião (ver caso ISCTE)”. Bem pelo contrário. Enfim, ligeireza opinativa que Luís Cabral não terá, certamente, no seu trabalho profissional.
3. Mas o grande problema com esta opinião de Luís Cabral é outro, que começa a ser recorrente no espaço de opinião em que se insere. Em resumo: quando Marchi se pronuncia sobre o Chega fá-lo legitimamente, ao abrigo do direito à liberdade de expressão, seja no trabalho científico, seja quando opina a partir do lugar em que se coloca, e que o próprio define como à direita do Chega. Tem razão. Mas quando outros criticam Marchi fazem-no ilegitimamente, ameaçando o direito à liberdade de expressão. Escapa-me a lógica do argumento. Os 67 não proibiram Marchi de nada, não o ameaçaram ou reclamaram o seu despedimento. Discordaram dele e contestaram o estatuto científico do seu trabalho. Luís Cabral discorda da crítica. Perfeitamente aceitável. Mas as ameaças à liberdade de expressão não são as críticas dos outros de que eu discordo. Estranha ideia de liberdade académica.