Todas as grandes transições tecnológicas passadas desafiaram o mundo do trabalho e desencadearam a necessidade de novas respostas. Frequentemente, foram acompanhadas de tentativas de pôr em causa equilibrios pré-estabelecidos. A transição digital não será diferente.
O Acordo-quadro celebrado ao nível europeu entre sindicatos e associações patronais no fim de junho é um bom ponto de partida, insistindo em que a transição não seja o pretexto para a eliminação de postos de trabalho, mas a oportunidade para promover a adaptação dos trabalhadores às mudanças necessárias.
Este acordo é só um ponto de partida. Caberá ao diálogo social a nível nacional – e em particular à negociação coletiva – imaginar as soluções que funcionam para que melhores postos de trabalho em vez de menos postos de trabalho sejam o resultado de longo prazo da soma da transição com a recuperação económica.
No passado, a principal garantia de que os avanços tecnológicos não fossem acompanhados de retrocessos sociais foi dada pelo diálogo social – esse é um dos grandes contributos do socialismo democrático e da social-democracia ao mundo – e pela capacidade de este influenciar a produção legislativa.
Como bem recordou Monteiro Fernandes na entrevista ao Podcast do Canhoto, em Portugal nem sempre tem sido assim, confiando-se excessivamente no Estado protetor. A digitalização é uma oportunidade para as relações coletivas de trabalho, para o sindicalismo e para os trabalhadores. Mas necessita de sindicatos com forte sentido estratégico e entidades patronais com visão de futuro. Ao nível europeu foi dado o tiro de partida. Venha agora a imaginação ao nível nacional.