Como é sabido e já aqui foi criticado, o PS e o PSD decidiram que havia excesso de momentos mediáticos no seu escrutínio ao governo e prescindiram quase totalmente do debate parlamentar com o Primeiro-Ministro, como se não fosse primariamente perante este que aquele tem que responder. Mas o Presidente da República pôs o dedo no ar e convidou o Parlamento à reflexão.
Como a auto-limitação que resulta do desaperfeiçoamento democrático que este bloco central (não tanto assim) ocasional introduziu nesta questão se expressa num ato interno do Parlamento, ela é em grande medida apenas passível de correção quando houver, o que é muito improvável, uma maioria parlamentar sem PS nem PSD. Ou, em alternativa mais provável, quando os dois partidos mudarem de direções e de orientações o suficiente para voltarem a acreditar na centralidade do Parlamento no escrutínio político do governo, em vez do velho consenso, maioritário de novo, de que o papel do grupo parlamentar do partido de entre os dois que governa é o de rolo compressor ao serviço do governo e o do que está na oposição o de um corpo de gente à espera que este se desfaça por si ou pela adversidade das conjunturas, para, “sem pressa de ir ao pote”, esperar que o poder lhe caia nas mãos.
Mas há uma parte da absurda decisão parlamentar que carecia de aprovação externa, por ser ato legislativo. E o veto presidencial à redução dos debates sobre a Europa com o Primeiro-Ministro chegou. Só não vê nela um voto contra o espírito de todo o pacote de contra-reforma do escrutínio do Primeiro-Ministro pelo governo quem não quiser ver.
Agora veremos o Parlamento curvar-se perante o Presidente onde tem que gerir um poder externo e não se curvar perante o bom-senso onde depende só de si. É pena.